A comédia interstícial de A.L.(P.) - folhetim
Como é que aparecem e desaparecem ( inclinando-se como devorante monstruosidade) as famigeradas forças da Forma?
O que é que nos trai e atrai? O que é que nos apela à pele ou a repele?
Em que incendios nos deixamos incensar? que tragédias nos apetece temer?
A Forma torna-se aparato nas parecenças patéticas/paródicas do homem. A sua estranhesa supostamente inquietante é uma inclinação para os rios do riso que a faz deslizar de aparição em aparição sem que uma ilusão final, apocaliptica ou nirvânica, pontue definitivamente.
O homem é uma criatura que se auto-cria gerindo familias de formas todas elas falsas, porque mais antigas que as ideias dos arquétipos. Todas as formas são a fatalidade de o já terem acontecido e acamparem connosco. A sua inevitabilidade faz com que os outroos estejam demasiado presentes como presenças incómoda. A proeminência e a capacidade de propagação das formas são a prova nem aprova, apenas nos dá a entender que um erro e um desejo de errância as habitam. Qualquer justificação seja teleológica, ontológica, ateia ou simplesmente desbocada é a insistência na glória de um erro fecundo.
O meu aparecimento é o desaparecimento de muitos outros. Mesmo a minha involuntária presença lança laços tentaculares sobre tantos que ignoro. São as comédias do reconhecimento que engendram as relações de poder que fazem com que os outros sejam outros e que eu me queira em cabana, seja solipsista, seja em suposto desafago de desapego. Somos absolutos no que temos de mais privado. Somos, não por direito, mas porque nos falta qualquer direito ou uma razão que nos dê garantias de nos garantir.
Assentamos arraiais nas taras que nos singularizam.
Os imprevistos que ele constitui na sua solidão tornam-no eventualmente mais consciente ou se calhar não. A lúcidez, que chacina impiedosamente as aparições com razões cada vez menos soberanas, é porventura o contrário da iluminação, com a sua simpatia indeterminada que assenta nalguma cosmética e em bastante folclore.
Queremos emigrar das nossas manias hábeis para uma revolução que nos revogue e que destitua os hábitos que nos fazem e refazem, que nos «fugam» e nos refugam. Julgamo-nos quando fugimos às brasas das sardinhas de qualquer juízo. Somos apesar de tudo intensos mesmo nos prefácios às intencionalidades.
Só me dou a entender com alguma imposição, mesmo que esta venha mascarada da mais doce simpatia. Modifico-vos mesmo na indeterminação que o registo das formas propaga. Determino-me na minha indeterminação e indetermino-me na fancaria das formas que vou formando – acompanho-vos como aterrorizante empatia.
Os mimetismos são a radiação de qualquer entendimento, com ou sem linguagem por cima ou por baixo. A mimificação é prelúdio à mumificação. O mimetismo é um misticismo sem mistificação. As modificações são alheias ao sujeito, mas o sujeito deixa-se encarnar pela atração das coreografadas variantes. As mutações surpreendem-nos antes que tomemos consciência do anquilosamento.
A ebriedade é a consequência de qualquer influência. Quando nos deixamos influênciar a alegria sacode-nos como um demónio, até que caímos para o lado e nos dá uma vontade simpática de chorar.
Nem sempre nos apetece enxotar os que nos procuram e nos adulam com a sua simpatia carnívora. Tememos a magia da adoração que procura gurus de palha para sacrificar em altar seboso. A verdadeira beatitude é tude menos limpa e seráfica – está nas antípodas de toda a curvatura lombar. É o peito que se abre, mesmo que acolha as vindouras confusões.
Não nos salvamos porque nos assustamos com os sustos. As ultimas vontades procuram porlongar-nos no tempo mas efectivamente negam-nos a saciedade.
O jogo das formas anula-nos, mas se as formas não contarem connosco anulam o seu jogo e a própria Forma. Colaboramos num engodo, que é o tempo. Nada há para salvar senão o delicioso formigamento das ilusões.
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