a refutação motorizada (o elegkhos)
O elegkhos é o motor da filosofia, o resto são atrelados. Por exemplo, Nietszche constroi o seu aparato filosofico sobre refutações sucessivas. É a dentada e a ferroada em canela filosófica alheia que o tornam o bom descendente dos cínicos, combinado com um cepticismo que se inconforma com o cepticismo e puxa às afirmações bombásticas. O seu fantasma (bloomiano) é Schopenhauer, e o filósofo de farfalhudos bigodes coça-se por causa da comicheira dionísiaca que «refuta» a sábia contemplação pseudo-budista (apolinea?). No fundo é uma questão mais indiana do que grega - o deus Shiva só se construíu e se tornou um deus maior como antídoto ao budismo que dominou a India no periodo post-Ashoka, e como contrapartida de Krishna/Vishnou. É claro que o shivaísmo tem as mais fundas (e desviantes?) origens em passados cada vez mais remotos, e as arqueologias e os as bonecadas itifálicas (fáceis de encontrar em qualquer parte do mundo) arranjam certificados para todos os exaltadores de antiguidades que legitimam. Mas numa boa perspectiva nietszchiana/shivaista, quanto mais temos um conhecimento exacto do passado mais achamos que a coisa tem muito de tangoso. Um shivaista a sério está-se nas tintas para o bafo de prestigio que vem do fundo das erras com o seu cheiro a môfo e o seu desvio dos extases presentes. Mas perceber como é que uma versão «benevolente» de um deus terrivel se tornou mainstream é um bom trabalho para um historiador de religiões.
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