Tuesday, December 18, 2007

maozedong no cabaret voltaire


Encontro no Vie Divine de Sollers um pequeno texto juvenil (1917) do camarada Mao-Tse-Tung

«Eu digo: o conceito é a realidade, o finito o infinito, os sentidos temporais são intemporais, a imaginação é o pensamento, a forma é substancia, eu sou o universo, a vida é a morte, a morte é a vida, o presente é o passado e o futuro, o passado e o futuro são o presente, o pequeno é o grande, o grande é o pequeno, o yang é o yin, o alto é o baixo, o sujo é o limpo, o macho é a femea, o que é espesso é fino. Os que são numerosos fazem um só, e a mudança é perpétua.»

Dir-se-ia um texto de um místico ou de um dadaísta. Os velhos termos heraclitianos e os clichés da tábua esmeralda («o alto é como o baixo, tudo está em tudo, etc.»), embora a sua tradição seja outra, mais «taoista» - certamenta mais próxima de Lao-Tsé do que de Tchouang-Tseu: «governar um estado é como fritar um peixe»!. Mas é subjacente a esta unicidade, como a todo o tipo de unicidade, o totalitarismo - e o fascinio revolucionário-terrorista que imagina sempre que substituir uma ordem podre por uma desordem total ou uma ordem nova resolve os males do mundo.

Mao podia ter sido um simpático dadaísta e foi melhor poeta do que Hitler pintor, mas foi provávelmente um dos piores déspotas. A Revolução Cultural, que tanto fascinou os intelectuais mais esquerdistas/anarquistas (Cage é um bom exermplo porque era um homem muito simpático) a partir do final dos anos sessenta foi o acto mais radical em politica alguma vez experimentado - os seus resultados pavorosos deviam servir de reflexão a toda a retórica «revolucionária», com ou sem caldo situacionista. Por isso o «radicalismo» de consumo dos anos 90 me pareceu uma reedição nostalgica de uma série de clichés com resultados compravadamente nefastos. (mantenho o erro na palavra, porque tem ressonancias quer a «depravado» quer à «pravda» soviética)

O que não quer dizer que se renuncie a outro tipo de revolução, mais sensível, mais atenta ao progresso da complexidade e à adptação das faculdades do nosso corpo a essa complexidade crescente. É certo que o nosso corpo não tolera demasiada realidade, como diria reaccionariamente T. S. Eliot, mas a nossa adaptação a algo com mais informação, mais ruído, mais energia, mais tolerancia, mais simpatia, mais responsabilidade, mais entusiasmo é uma revolução bem mais inadiável do que contestar impotentemente a barbárie hipercapitalista.

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