Saturday, December 22, 2007

ménis e métis


Um dos poemas homéricos trata da Ménis de Aquiles e o outro da Métis de Ulisses - parece haver um mecanismo à Raymond Roussel neste jogo sonoro entre o «n» e o «t» que se estende sobre a Odisseia docemente ( ou «paródicamente» ) -ler a Odisseia como uma espécie de refutação da Íliada será insensato? Os helenistas gostam de afastar esses espectro. Mas creio que estes dois termos, a Cólera e a Astúcia abrém-nos as duas grandes estradas do pensamento e da poética ocidental - uma frontal, belicosa, exposta; a outra dissimulada, prudente, púdica. Uma celebra a Memória como a entrada violenta e bela na morte, expediente juvenil e exemplar da camaradagem. A outra celebra a beleza de envelhecer conjugalmente, e de como isso deve ser conquistado numa luta contra «o verde terror da morte» e de todos os artifícios amnésicos (desde a droga à clandestinidade sexual).


A via da Odisseia é mais «conservadora»? Provávelmente! É a ética de dificil gestão dos tempos de paz e dos fantasmas que o assolam. Mas não é esta preferível à violência destruídora das linhas da frente? A Cólera de Aquiles é o entusiasmo «higiénico» das vanguardas. Não sei se nelas conquistamos alguma Troia - mas a sua tradição está povoada de coisas, e esses despojos constituem boa parte da nossa memória. Vai ser difícil retornar...

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